Você sabia que o Colégio Dante Alighieri tem uma revista muito legal? Pois é, também não sabia! A Revista Dante Cultural é uma grata surpresa, que me apresentou um tema novo e apaixonante: o Cittaslow. Ele é um movimento inspirado no Slow Food, que quer preservar a identidade das pequenas cidades.
A jornalista Natália Garcia, especializada em planejamento urbano e autora do projeto Cidades para Pessoas, foi a portadora da boa notícia! Ela trabalhou em parceria com a artista plástica Juliana Russo Burgierman e escreveu para a revista um artigo chamado “A sustentável leveza urbana“.
Elas percorreram 12 cidades do mundo em busca de ideias que tenham melhorado a qualidade de vida de seus moradores. Foi o primeiro projeto financiado colaborativamente no Brasil, na plataforma Catarse.me. Uma beleza de iniciativa!
Selecionei alguns trechos, mas vale a leitura completa e o passeio pelas edições da Dante Cultural, é gratuito!
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Imagine um vilarejo onde todos se conhecem e têm relações lastreadas por uma identidade comum. Agora pense que essa cidadezinha começa a atrair turistas e/ou moradores de maneira vertiginosa, seja porque está se desenvolvendo economicamente ou por ter sido destaque de um guia prestigiado. A primeira coisa que começa a acontecer, segundo o urbanista italiano Richard Rogers, é um aumento no fluxo de veículos. E isso reflete diretamente nas relações entre as pessoas.
Em seu livro Cidades para um pequeno planeta, Rogers cita uma pesquisa feita na cidade de São Francisco que aponta que, em uma via com tráfego leve de veículos, cada morador tem, em média, 3 amigos e 6,3 conhecidos. Já em uma via de fluxo moderado de carros, a média cai para 1,3 amigo por pessoa e 4,1 conhecidos. Finalmente, em uma avenida de trânsito intenso, cada morador tem em média 0,9 amigo e 3,1 conhecidos. Por esse e outros fatores, o crescimento acelerado diminui as relações entre as pessoas e pode provocar a perda da identidade cultural local.
Esse era o medo dos moradores de Greve in Chianti, um vilarejo da região da Toscana,
na Itália, com 15 mil habitantes (para efeito de comparação, São Paulo tem 11 milhões). A
cidade abriga a igreja Santa Croce (século XI), uma casa que pertenceu ao navegador Américo Vespúcio (que dirigia a expedição em que Cristóvão Colombo descobriu a América), o castelo de Verrazzano (séc. XIII) e um mosteiro franciscano (séc. XIV). Também é referência na produção de azeite de oliva, vinhos, trufas e outras maravilhas da cozinha italiana. Não é de espantar que, na década de 1980, o volume de turistas tenha crescido exponencialmente.
Foi em 1995 que o então prefeito Paolo Saturnini propôs que a cidade passasse por uma desaceleração para voltar a um ritmo cotidiano que respeitasse as vidas de seus moradores. Saturnini se inspirou em outro movimento italiano, o Slow Food, criado em 1989, em oposição ao Fast Food, para recuperar as tradições culinárias e devolver às pessoas o prazer de comer.
Saturnini também queria devolver aos cidadãos de Greve in Chianti um prazer: o de caminhar pelas ruas e se encontrar com os amigos. Para isso fundou o Cittaslow, um movimento que procura no planejamento urbano as ferramentas para desenvolver as cidades em uma escala sustentável, preservando sua cultura e identidade local.
O lema da Cittaslow é entoado com o sotaque do norte da Itália: chi va piano va sano e va lontano (“devagar se caminha com segurança e se vai longe”, em tradução livre). A ideia foi logo abraçada por outras cidades italianas, como Orivetto, Bra e Positano, e pelo próprio movimento Slow Food.
Para integrar essa rede, a cidade precisa ter até 50 mil habitantes e assumir alguns compromissos. Por exemplo, o planejamento urbano dela deve prever a melhora do território e não apenas sua ocupação, a política ambiental precisa garantir a reciclagem de resíduos quando não for possível evitá-los, a produção local deve ser incentivada preservando antigas tradições, a relação entre turistas e moradores deve ser harmoniosa e sem exploração, e o cultivo de alimentos e o consumo devem ser locais sempre que possível.
O Cittaslow parece ter resolvido a maior preocupação de Saturnini, bem expressada pelo escritor tcheco Milan Kundera em Lentidão, “quando as coisas acontecem rápido demais, ninguém pode ter certeza de nada, nem de si mesmo”. Cidades lentas, ao contrário, podem devolver às pessoas o delicioso prazer da ociosidade, da felicidade sem pressa e sem hora para acabar.
Nota: Se interessou pelo movimento Slow? Essa Wiki é bem completa. Mais? Três links ótimos: Slow Planet, a página de Carl Honoré, jornalista canadense, defensor do movimento e alguns posts sobre quem cuida das suas cidades.
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