Segue o nosso conselho. Antes de começar a ler, pega um café, um doce, coloca uma música e vem flanar pelas ruas de Buenos Aires com a nossa bela Camila!
“Me dispensem dessa pirraça de vocês com los argentinos. Não consigo ver ameaça nos tipos com “mullet” e acho um sincero charme essa marra de Europa abaixo do Equador. Sabe quem tomou uma sova da vida, sem perder o semblante de que é só uma ressaca prolongada em anos da melhor festa da década passada? Curto essa cara mal lavada de que algo já foi bom algum dia.
E ainda é bom. Estive em Buenos Aires com o atraso de muitas tirinhas da Malfada já lidas. Uma amiga, casada com um anti-kirchnerista, hoje vive em Villa Crespo, bairro gracinha (e pros tacanhos – onde se acomodam outlets e a comunidade judaica, seja coincidência ou não). Lá estive por duas semanas em agosto. Comendo até tomar a forma de uma sucuri que engoliu um apresentador de aventura da Discovery e gastando o que não tinha. É o que se faz de férias, não? A tal amiga anfitriã arrumou um marido na temporada por lá, mas, né, a pessoa aqui tem outros tipos de competências, certamente, essa não.
Antes que me julguem a mais inútil das turistas porteñas, saibam que eu também tinha uma função. Dani, senhora do lar deste Apezinho, chorou pra cima de mim: “Ei, eles são bons em enfeitar casa. Ei, você está à toa. Ei, junte dicas pra gente”. A moça também é minha chefe na vida fora deste blog e eu tenho juízo: obedeci e foi um grande prazer!
Não há um café, uma livraria, um estabelecimento, que não te dê vontade de fretar uma carreta de pneu careca pra fazer a mudança e morar pra sempre dentro dele em BUE. Tudo tão colorido, tão cheio de cacarecos… Abaixo, eis as lojas que visitei e que listo como as minhas preferidas para deixar sua casa mais hermosa-hermana.
Tienda Palacio – Pense em toda a sorte de miudezas que não servem pra nada, apenas impossíveis de resistir. E digo isso da maneira mais lisonjeira possível! Quer ver você relativizar o conceito de utilidade? Uma amiga levou um paper doll do Michael Jackson, ímã de geladeira, com direito a camiseta do Macaulay Culkin, cara em três tons de pele e dois estágios de nariz. Dá pra viver sem isso? Sei não, rapaz! A própria loja se define assim: “cool stuff, unnecessary objects, good prices, vintage nostalgia, bargains, good vibes”. De gamar! Tem coisa parruda e lista básica de apetrechos para casa também: móveis, cortinas de banho, capachos, luminárias. O humor que não falta aos vizinhos está na maioria das peças. Guarde sola de sapato pra mais de uma hora lá dentro mole, mole!
Variopinta – Microloja, com cara de casa de avó de novela das seis. Daquelas com tanto entulho, que não dá pra se esgueirar entre as quinas de mesa sem topar e ganhar um roxo novo na canela. Mas por uma boa causa: tem almofada de lã colorida, padaria com xícara, telefone retrô de girar com o dedo, caminho de mesa e pé palito pra tudo quanto é lado (<3). Fomos arrebatadas pela coleção de cactos de crochê, já que tem a gratidão do troço não esturricar mesmo sem a atenção devida. Os móveis por encomenda recrutaram tanta personalidade que hoje são batizados com nome de gente. Agora vê!
Se chegar até aqui, não deixe de ir ao café La Crespo, pertinho. Não são meus parentes, não é jabá, é só bom pra caramba mesmo.
Falabella – É como a nossa saudosa Mesbla, sacou o nível de amor? Tem em cada esquina no coração da Calle Florida, a rua pega-turista, a que troca dinheiro e os caras gritam doidos pra te levar pra dançar tango com um sujeito ensebado (dica, dica: tango no La Catedral). Há várias Falabellas para cada um dos departamentos e a de decoração é surpreendente. Quando eu fui, rolava uma coleção meio América Andina (eita, que ficou pior que Glória Coelho descrevendo sua coleção Fashion Week): colchas coloridas, cestas de palha, almofadões bordados. Tudo bonito e com bons preços!
Chapó Loló – Alguma coisa acontece no meu coração em loja de criança. Acho que só um adestrador de cães daria conta de me sossegar neste momento e me fazer parar de abanar o rabo de alegria. E sem papo de relógio biológico – outro dia mesmo, estava falando em como bebês deveriam nascer em ovos, ponto. O lance é outro. Eu gosto um bom bocado dos pirralhos dos outros e mais ainda do que é feito pra eles, só que pra mim, essa marmanja. A Chapó Loló assina uma “decoración vintage para niños bohemios”. São mini-móveis com cara de gente grande e brinquedos de antigamente que também servem pra munir a decoração de uma casa chegada na fofura.
Paul French Gallery – Vivi meus minutos descobrindo o jardim secreto. Chegamos lá sem querer, esticando os olhos pra dentro de um portal simpático e um corredor coberto do verde das plantas por cada canto. Deu na deslumbrante Paul French Gallery. Lojinha envidraçada e cheia de roupa de cama cor de barbante (gente rica adora). O clima é o rústico milimetricamente descascado e os preços têm cifrões para as dondocas de Palermo. É mais pra se enamorar e embarcar de volta pra realidade, suando pra copiar muito ‘marromenos’ na Leroy Merlin.
A Casa Chaucha é um blog argentino que arquiva um punhado de lares formosos da terra de Evita. São casas de gente como a gente, sem a pompa Casa Cláudia, nada disso. Pra dar um bom confere no terreno deste povo buena onda e comprovar com os seus próprios óculos hipsters o quanto eles levam jeito pra coisa. Eu ainda me enrabicho toda pela seção “si existiera, visitaríamos”. É um cantinho do blog só dedicado a casas de personagens de cinema onde adoraríamos tomar um chá. Último conselho de amiga, vá lá ganhar algumas horas.”
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