Eu tinha 19 anos quando saí de casa para a aventura de morar sozinho – naquela época, jovens saíam do conforto da casa dos pais. Minha mãe me deu de presente uma pequena escultura de cerâmica com um menino louro – e naquela época, eu ainda tinha cabelos – carregando uma trouxinha de roupas.
De lá para cá mudei muitas vezes. Sou animal inquieto. Por razões profissionais, casamentos, separações ou só porque deu vontade, fui para meu oitavo endereço em quinze anos, no Rio e em Brasília.
Eu gosto de desmontar e montar casas. Gosto dos ciclos. Dos fins e dos recomeços.
Essa alta rotatividade domiciliar, embora dê uma trabalheira insana, me faz sentir mais livre e tem lá suas vantagens. Possibilita, por exemplo, descobrir as delícias de cada vizinhança. Os recantos, o pequeno comércio de bairro.
Mas o melhor mesmo é o exercício do desapego. A cada mudança, objetos, roupas, papéis são descartados. Tenho muitos livros e aqueles que tenho certeza de que não vou reler vão para bibliotecas ou sebos. A coleção de CD que já ocupou muito espaço foi devidamente digitalizada e aquilo que realmente gosto está armazenado. As roupas são sempre revisadas e muitas peças seguem para doação. Energias que circulam e se renovam. Vou mais leve.
Outra coisa boa é redesenhar a casa, ao sabor da configuração do espaço. Assim, móveis mudam de ambiente e, às vezes, ganham nova função, e objetos podem conquistar outro lugar com mais destaque na decoração.
O tal menino de cerâmica que ganhei da minha mãe, admito, nunca ganhou lugar privilegiado. É kitsch. Em compensação, com ele, não vale a recomendação do desapego. O menino com sua muda de roupas vai sempre comigo, ícone e amuleto desse nomadismo urbano. O gosto pela liberdade foi o maior valor que aprendi com minha mãe.
8 Comentários
Que legal, Leandro. Gostei e, realmente, esse modo de viver, vai fazer diferença mais na frente. Pelo menos ganhará a experiência de ter vivido ao seu jeito.
Bom lhe encontrar. Forte abraço.
Marcos Maia
Já está fazendo diferença, Marcos. E tomara que lá na frente, eu possa cantar “I did it my way…”
Uau, Graciela, vc e seu marido são mais nômades do que eu. É bom, né? Pedras que rolam não criam limo…
Olha Leandro, eu e meu marido somos como você, em 19 anos mudamos 15 vezes, agora compramos um apezinho, fazem uns dois anos, mas estamos nos coçando para mudar rsrsrs…só que vender é mais difícil, somos nômades mesmo, não tem jeito, abraço!
Bacana o texto, Leandro! Principalmente nesse momento que estou desapegando de um apt em busca de outro mais barato, nesse RJ com preços exorbitantes!
Valeu, Alessandra. E, putz, bota exorbitantes nisso! Uma hora esses preços terão que abaixar.
Tomara que vc encontre um apezinho logo e faça dele um lugar ainda mais maneiro que o anterior. Sorte!
Conheço gente com este mesmo hábito. Acho legal encerrar e começar ciclos, e a mudança pode ser uma boa forma de fazer isso. Só que dá trabalho…
Pois é, Noeli, nômades às vezes andam em bandos, girando ciclos, tendo (e dando, rsrsr) trabalho.
Leandro, que alivio senti agora..rss. Achei que era única pessoa no mundo assim, meus amigos me chamam de cigana. Sai da casa dos meus pais tem 12 anos e já mudei de casa 11 vezes e no próximo mês vou p 12 vezes. Desta ultima larguei tudo no interior e vim pra São Paulo, faz 7 meses que estou aqui, e acho q agora ta na hr de voltar, não me adaptei por aqui, mas valeu a experiência. Agora comprei um ap lá no interior, pretendo ficar por alguns anos quieta…rss.