Bendita a hora que escrevi no Google “Chapada Diamantina” e apareceu Lothlorien com essa descrição: “Um espaço voltado para a espiritualidade, o crescimento pessoal e o respeito à natureza, localizado no Vale do Capão.” Não demorou muito pra eu me apaixonar pelas fotos do lugar e descobrir que poderia ser uma hóspede participativa, ou seja, trocar parte do custo das minhas diárias por trabalho. De 2ª a sábado, três horas pela manhã, com tarefas na horta, pomar, jardins, manutenção, cozinha, biblioteca, arrumação, limpeza e o que aparecer. As tardes e o domingo livres, eba!
Dessa forma você participa da rotina do local, experimenta a alimentação natural feita lá mesmo (deliciosa, sem carne ou álcool) e convive com pessoas com regras completamente diferentes das nossas, seres da cidade 100% ansiosos.
Fui pra Lothlorien (nome retirado do Senhor dos Anéis) e passei oito dias muito especiais. Ao longo dos dias fui anotando algumas impressões que gostaria de compartilhar com você e dizer que todo mundo precisa passar por esse tipo de experiência. A simplicidade do Vale do Capão é um luxo, um privilégio disponível para todos nós. Veja como aproveitar essa belezura nesse post do Viaje na viagem!
Anotações da Chapada
Após 64 dias de uma terrível seca, choveu bastante nos dias que passei lá. Por isso, a lama dos caminhos era uma realidade difícil de escapar. Ou você usa galocha ou havaianas. As unhas do meu pé ficaram sujas por toda a viagem com alguns momentos de breve limpeza. E tudo bem. Os conceitos de sujo e limpo no Capão são muito relativos!
Uma das minhas tarefas foi catar as mangas do quintal. Dezenas delas, que caem o tempo inteiro. Por isso, não tenha jamais a intenção de mandar na natureza. E nem fique obcecado com a limpeza total do local. Porque as mangas vão continuar a cair e você, humildemente, vai catar novamente.
Ir para um lugar diferente traz sabores inusitados como mel com pimenta (que eles colocam em uma maravilhosa pizzaria da cidade) ou o pastel/ coxinha de jaca. Jaca? Sim, jaca. Acredite é uma delícia. Atropele seu julgamento, ele nos deixa de fora de muita situação incrível por pura bobagem. Agradeço à Mirella, minha maravilhosa parceira em Lothlorien, por ter ignorado o meu!
Trabalhar de forma coletiva é muito gratificante. Acordávamos cedo, meditávamos, tomávamos café e seguíamos para a nossa atividade do dia. Separar tomates, limpar o templo, organizar a biblioteca, ajudar na cozinha picando os alimentos, tudo feito com muita dedicação e alegria! Não houve um dia que eu não tenha aprendido algo novo ou tido um ataque de riso pela minha falta de jeito ou ignorância sobre algum assunto óbvio para quem mora lá.
No Capão, o tempo e o silêncio têm outra dimensão. Eles te relembram como é maravilhoso poder estar sozinho para se conhecer e se ouvir melhor. Encarar os hábitos que engessam e decidir o que fazer com medos. Do escuro, da altura, dos bichos, dos barulhos desconhecidos, da solidão, da morte. Andei pela estradinha à noite, subi trilhas íngremes, convivi com insetos bem estranhos, acordei com o barulho da tempestade. Vivi!
Em um dos dias choveu tanto que a água do Rio ultrapassou uma das pontes para a vila. As pessoas ficaram tão felizes com a abundância, que foram até o local ficar olhando, enquanto eu, com o meu histórico de chuvas destruidoras de verão, achei que eles fossem se assustar com a tromba d’água… Que nada, só vi olhos agradecidos. A vida estava de volta ao Vale! Revi a definição do que é perda e ganho.
Nessa semana sorri e agradeci muito. Fui gentil comigo mesma. Confirmei que preciso de muito pouco pra ser feliz. Bebi água do rio. Caminhei uma dezena de quilômetros e conheci algumas das mais lindas cachoeiras da região. Aproveitei como nunca as minhas folgas e voltei renovada pra cidade grande. Parei de comer carne. Adquiri hábitos mais saudáveis.
Prometi duas coisas muito importantes: vou cuidar direitinho de mim e voltar ao Capão muitas vezes. Quem sabe, um dia pra ficar!
Nota do Apezinho: muitos abraços carinhosos para a Sônia, Menino Cochoco, Doutor Aureo (que cuidou muito bem de mim!), Carlos, Geo e Cintia. E uma chuva de beijos na querida Mirella, amiga/filha que ganhei de presente do Capão!
Você pode ver mais fotos do paraíso nesse álbum.
6 Comentários
Dani! que máximo tudo isso. você, com seu sorriso afetuoso, levou a chuva pra este povo! chuva é pura sensibilidade.. é emocionante encontrar pessoas que vivem em outra dinâmica e se dar conta que existem sim muitos modos de se viver. ADORO! eu já cortei muito legume, já limpei muita cozinha e colhi muito abacate. ficaria feliz catando manga por aí :) bom saber que existe um lugar assim.. deve ter um monte por este Brasil imenso. vamos!
Vamos catar mangas juntas, Helena! <3 Beijos!!
Aii que relato lindo!
O Capão é único e a Chapada.. bem, sou suspeita, toda minha família por parte de mãe é de lá, cresci indo a este lugar que também chamo de meu, no mundo! Que bom que te fez bem!
Um beijo grande,
Eva
Eva, que sorte que você tem! Minha vontade é me mudar pra lá amanhã, se pudesse. Que lugar, que pessoas, que experiência. Beijos!
Daniiii, que experiência incrível! Não é de hoje que quero fazer travessias pela Chapada e conhecer o Capão. Mas, agora, deu ainda mais vontade de ir. Quero conhecer esse lugar maravilhoso onde vc ficou, também. Amei! Que seja de muita paz, energia boa e alegrias a sua volta ao trabalho e à vida na cidade grande. <3 Bjs!!
Dani!! Vá, vá, vá. Você vai amar e trazer aprendizado pro resto da sua vida. Depois conta pra gente. Beijos!