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Poupe já!

Na minha última viagem – normalmente estes momentos se prestam a boas reflexões – estive pensando sobre o que escreveria para o Apezinho, quando me lembrei de algo que li e que, embora um tanto óbvio, nem sempre nos damos conta. Me refiro ao fato de que a renda que recebemos ao longo de nossa vida tem que ser suficiente para satisfazer nossas necessidades de consumo agora e no futuro.

Quando fazemos o balanço mensal de receitas e despesas e elas empatam, nós ficamos felizes. Na verdade, deveríamos pensar que estamos consumindo parte da renda futura para viver o presente! Ainda mais quando sabemos que não podemos contar apenas com a aposentadoria do INSS, hoje limitada a pouco mais de R$ 4.000,00, se você contribuir com o valor máximo ao longo de décadas.

shutterstock_123672316“Prepara-te para o que quiseres ser.”

Pode ser que para quem esteja em início de carreira este valor seja até superior ao salário atual, mas o estamos falando de futuro, daqui a 30 ou 40 anos. Se você tiver ambições profissionais deverá atingir um nível de renda bem maior do que esse, porém para manter esse nível será necessário fazer uma poupança complementar. Mesmo que você não consiga poupar muito nos primeiros anos, crie e mantenha este hábito, pois quanto mais tarde começar a fazê-lo maior será o esforço para compensar o tempo perdido.

Vou ter de entrar um pouco no financês para explicar os desafios que enfrentamos quando falamos desse assunto, mas tentarei ser o mais didático possível! Para quem está começando uma poupança agora a situação está mais difícil. Em 2000, a taxa de juros real (juro real = taxa de juros total de uma aplicação financeira menos a inflação) costumava ser generosa, na casa dos 15% ao ano. De lá pra cá, essa taxa vem caindo gradualmente, tendo encerrado 2012 em cerca de 3% ao ano, ou seja, uma queda da ordem de 80% em 12 anos!

Em 2013, a taxa de juros Selic, que é a referência para o mercado financeiro, está em 9,0% ao ano. Quando se desconta a inflação, que está nos 6,0% ao ano, você percebe que o tal “juro real” segue na faixa dos 3,0% ao ano. Por isso, devemos gastar somente o “juro real” de uma aplicação e, assim, preservar o capital investido. Se não fizermos dessa forma, nosso patrimônio será corroído pela inflação. Não se iluda achando que vai poder gastar todos os 9,0%, pois se assim o fizer seu capital se reduzirá ao longo do tempo e o seu rendimento será cada vez menor.

Resumo da ópera: o nível atual de “remuneração real” das aplicações financeiras é 20% do que costumava ser no ano 2000, ou seja, para obtermos o mesmo nível de renda na aposentadoria será necessário realizar um esforço de poupança cerca de 5 vezes maior de que era necessário. Para quem está chegando agora a este “mercado”, sinto dizer que a festa acabou. Comece a poupar o mais cedo possível.

shutterstock_103774709“De grão em grão…”

Poupar é difícil? Claro que é, ainda mais com as ofertas tentadoras que nos rondam, mas é importante termos a consciência de que o futuro precisa ser construído ao longo de toda a vida e não apenas a partir do meio ou do final dela. Não estou pedindo para você abrir mão de sua vida, se privando de prazeres que lhe fazem feliz, apenas estou dizendo que amanhã e depois de amanhã a vida continua e que deve haver um equilíbrio para que você também possa usufruir destes prazeres no futuro.

A ideia da formação de poupança para planejar o futuro não significa se privar de um delicioso café expresso, não ir ao cinema ou abrir mão de viajar de férias hoje para poder realizar tudo isso no futuro, como li alguém escrever outro dia. Significa ter atitudes mais racionais e comedidas hoje para poder fazer tudo isso também no futuro. Não estamos falando de 8 ou 80, estamos falando de algo no meio do caminho, tipo um 44!

Mais vale um pássaro na mão…

Em setembro li uma matéria no site da revista Exame sobre um executivo americano que, embora tenha tido uma vida profissional de sucesso, comprado a sua casa e pago a faculdade dos filhos, cometeu um pequeno deslize: não poupou o suficiente para a aposentadoria !!! E hoje, aos 77 anos, complementa sua renda com dois empregos de meio-período: demonstrador de comida em um supermercado e fritando hambúrgueres em uma churrascaria …

Sugiro que você procure um banco que possua “fundos de previdência privada”, pois administrar a própria poupança pode se tornar um pouco complexo para quem não é afeito ao mercado financeiro. Existem fundos agressivos, moderados e conservadores, escolha o que mais se adaptar ao seu perfil (os bancos costumam solicitar o preenchimento de um questionário para determiná-lol). Quando você definir o valor aproximado da renda mensal futura que deseja auferir, o banco fará uma simulação que determinará a sua contribuição mensal para atingir este valor.

shutterstock_139199024“Faça a fama e deite na cama!”

Embora existam várias questões, enumero três que considero as principais na escolha de um fundo:

1ª) Taxa de Administração: ao analisar um fundo descubra a taxa de administração que o banco cobra para administrá-lo, pois quanto maior for esta taxa, maior será o impacto negativo na rentabilidade. Algo entre 0,5% e 1,5% ao ano são os valores de praxe, mas lembre-se que se você está tendo uma rentabilidade real da ordem de 3,0% ao ano (conforme falamos anteriormente). Uma taxa de administração de 1,5% ao ano corresponde a cerca de 50% da rentabilidade do fundo;

2ª) Taxa de carregamento: é uma taxa/ remuneração que alguns bancos cobram em cada aplicação que você faz. Embora nem todos a pratiquem; tente evitá-la, pois o seu impacto na rentabilidade é muito maior do que a taxa anterior, já que o pagamento é descontado quando se faz a aplicação, ou seja, se esta taxa for de 1,0% e você aplicar R$ 100,00, na verdade a sua aplicação se reduzirá para R$ 99,00; e

3ª) Determinação da contribuição mensal: quando o banco simular o valor da sua contribuição mensal peça uma simulação conservadora, pois não é mais aceitável se usar uma taxa de juros real de 6% ao ano, como era comum até pouco tempo atrás. O máximo aceitável deve ser de 2,0 ou 3,0% ao ano, para não se incorrer no risco de estar sendo muito otimista.

Existem outros dois aspectos também importantes nas características deste produto, entre os quais cito o benefício fiscal (abatimento das contribuições no imposto de renda, limitado a 12% da renda bruta) e a forma de tributação (progressiva ou regressiva). Por se tratarem de assuntos complexos para serem tratados aqui, sugiro que sejam explorados junto ao seu banco.

Nós podemos até ajudá-lo nessa empreitada toda, mas você tem que ser o mentor dessa ideia e lutar por ela, pois o seu futuro será tão bom quanto você o planeje, nada mais, nada menos do que isso. Desculpem pelo texto pesado, mas infelizmente não tinha como ser muito diferente disto, dado a complexidade do assunto.

Obrigado e até a próxima !!!

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2 Comentários

  • RespondaGeorgiaoutubro 11, 2013 at 5:00 pm

    Renato, adoro seus artigos! Você sempre ajuda demais com eles!

  • RespondaRenatooutubro 11, 2013 at 6:45 pm

    Obrigado, Georgia, sua opinião é um grande incentivo. Se quiser sugerir algum tema para os próximos artigos, fique à vontade. Abç

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