O apezinho da querida Clarice fica em uma arborizada rua de Copacabana. O cenário combina imensamente com a personalidade do seu canto. Ele é pequenino, mas cheio de objetos inusitados, antigos e analógicos! Ficamos tão curiosas, que pedimos para a nossa amiga nos contar a origem de cada um.
Divirta-se com a explicação, ela é super bem escrita, cheia de sentimento e muito carinhosa! :)
Bandeirinhas tibetanas – Essas bandeirinhas eu ganhei de uma amiga querida. Me deu muita vontade de pendurá-las no meu mezanino, apesar de saber que, tradicionalmente, devam ser colocadas acima de nossas cabeças, em um lugar alto e de preferência externo, para que possam ser sacudidas pelo vento. Não sou budista, não tenho uma religião, mas simpatizo muito com vários aspectos da filosofia budista e estas bandeirinhas me trazem paz e alegria. Uma mistura de Buda com anarriê.
A deusa indiana na parede da sua cama – Este panô da deusa indiana Lakshmi também me traz uma sensação de paz e alegria. Como disse, eu não tenho religião, mas tenho um “pezinho” muito forte lá na Índia. Uma vez, eu estava no bairro indiano de Brick Lane, em Londres, e fiquei alguns minutos parada na porta de um restaurante. Uns 6 indianos diferentes vieram me perguntar o cardápio (em hindi!). Eles não acreditavam que eu não era indiana. Talvez por esse misterioso parentesco, toda a mitologia védica também me fascina: os arquétipos dos deuses e deusas hindus nos ensinam muito sobre a natureza humana. Neste sentido, Lakshmi representa um aspecto do feminino, doce e belo. Para que meus sonhos sejam generosos, na medida do possível.
O troféu em cima da mesa – Este é o troféu do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2015, desenhado por Ziraldo em homenagem ao Grande Otelo. Ganhei na categoria melhor curta documentário com meu filme “Efeito Casimiro”. Fazer este filme foi uma aventura deliciosa, mas nada fácil. Muito esforço, muito trabalho. Cada retorno como esse me dá mais força para continuar nessa estrada. Viva os ETs jupiterianos!
O secador de cabelo vintage – Tenho uma verdadeira tara por feiras de antiguidades e brechós. Acho que 70% do que tenho foi adquirido nesses templos das memórias perdidas. Ressignificar objetos obsoletos me faz muito bem, é uma mensagem intrínseca de renovação, transformação. Uma metáfora para o reinventar-se constante, o devir incessante da vida. Com este secador de cabelo dos anos 50 foi paixão à primeira vista. Logo pensei que seria um abajur maravilhoso para minha sala. E é.
As bonecas russas com o telefone preto – Essas matrioskas eu ganhei de outra amiga linda, sou fissurada nessas bonequinhas. Sendo sincera, nunca havia parado para pesquisar o significado delas, apenas agora, quando fui escrever esses depoimentos. Só sabia que eram russas. E qual não foi minha surpresa ao descobrir que as bonecas russas nasceram, na verdade, no Japão!
Já o telefone preto, esse tem uma história familiar muito linda. Ele era dos meus avós maternos, Tufik Saliby e Olga Atalla Saliby. Eu falei muito neste telefone quando era uma criancinha. Minha mãe falou nesse telefone quando era criancinha. Ele é um símbolo fortíssimo da minha infância e da minha árvore genealógica (o tronco árabe). Vejo nele muita beleza, poesia e ecos de vozes de crianças que me soam familiares.
A espanhola sevilhana – Esse presente veio da minha professora de dança flamenca (que vem a ser a mesma amiga das bandeirinhas tibetanas). Essa professora-amiga me fez entender que, dentro de mim mora uma cigana louca que baila flamenco independente da minha vontade. Começar a dar vazão a essa cigana, deixar que ela bailasse nos ritmos de fandangos, tangos, bulerías e outros olés, foi das melhores coisas que fiz na minha vida. Esse cantinho com essas lembranças que ela trouxe de Sevilla é o meu altar para o espírito gitano.
A taça de vidro com as pedras – Então, sabe o que falei acima sobre o espírito gitano flamenco? O que seria de uma cigana se ela não lesse as cartas? Pois bem, eu estudo o tarô de Marselha há muitos anos, quem começou a me ensinar foi meu pai Miguel de Simoni (esse era um baita ciganão). Depois que ele faleceu, em 2002, eu demorei um tempinho a conseguir encarar o tarô novamente, mas retomei em 2012 e de lá pra cá nunca mais parei.
O Tarô, como dizia meu pai, não é adivinhação. É apenas uma linguagem simbólica que nos ajuda a enxergar a vida de um ângulo diferente, ele traz um novo olhar sobre as situações que estamos vivendo e sobre nossos mecanismos internos. Nada mais é do que um aliado na busca pelo autoconhecimento e é um sistema lúdico e muito artístico, algo que seduz uma contadora de histórias, como eu. Mas o que a taça de vidro e as pedras têm a ver com isso? Desde que comecei a jogar, senti uma necessidade intuitiva de colocar um copo de água antes do jogo e depois jogar esta água fora, um ato simbólico de limpeza daquele material psicológico trabalhado no jogo. Depois eu descobri que o povo cigano só lê as cartas com um copo d’água e pensei: bingo! E os cristais, fortes representantes do elemento terra e do reino mineral, também me ajudam muito nessa manutenção da energia da minha casa.
A máquina filmadora – Outro presente de uma amiga. Aliás, escrevendo esses depoimentos percebi como ganho presentes! Que beleza! Essa amiga é uma grande apoiadora da minha carreira de documentarista. Meu amor pela sétima arte transborda por todos os cantos da minha casa. O cinema é um grande amigo. Sou completamente a favor das novas tecnologias. Que bom que está mais fácil o acesso ao fazer cinematográfico, mas tenho uma quedinha pelo universo da película, esteticamente falando. Por isso, tenho projetores de 8mm e super8mm, além de colecionar rolinhos dessas bitolas que compro nas feiras de antiguidades. Além disso, tenho projetores de slides e também coleciono essas pequenas maravilhas. Já tenho por volta de 1000 slides aleatórios que uso em criações diversas. Mas isso é outra história que merece um post só para ela (em breve!).
O São Francisco – Escrever sobre estes objetos me fez perceber duas coisas: 1) eu ganhei muitos lindos presentes de pessoas muito queridas 2) eu sou a pessoa não religiosa mais religiosa que eu conheço! Brincadeira, não se trata de religião, mas sim, de símbolos. Este São Francisco eu ganhei de uma amiga-irmã, uma pessoa muito especial na minha vida. Ela sabe de minha ligação com a figura de Francisco de Assis, que simboliza em minha vida a busca pela simplicidade e minha ligação com a natureza. Não o considero santo, mas um hippie libertário que lutou contra a usura, contra a busca do lucro rápido em detrimento à saúde dos trabalhadores. Foi um humanitário que chamou atenção às desigualdades sociais de sua época. Um cara que eu admiro muito. E essa estátua é a coisa mais fofa do mundo!
Nota do Apezinho: procuramos uma foto de nossa amiga no Facebook que tivesse a ver com o tema do post e achamos essa belezinha!
Alô, alô, querida, seu apezinho é uma lindeza, parabéns!
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