Aconteceu há alguns anos, mas ainda lembro da minha sensação de estranheza. Fui visitar a casa de uma conhecida. Casalzinho bem tradicional, recém casados. O apartamento era um desses comprados na planta, construção nova sem espaço sobrando. Mas os móveis, rá! Eram o conjunto completo: sofás de dois e três lugares, mesa de centro, estante grande com lugar para a tevê, e uma mesa com seis cadeiras. Para as visitas se sentarem à mesa, era necessário fazer uma manobra digna de tetris envolvendo os sofás. Fiquei estarrecida.
A SUA CASA NÃO É SÓ UM LUGAR. ELA REFLETE QUEM VOCÊ É, O QUE VOCÊ QUER SER, O QUE VOCÊ FAZ POR SI.
Meu maior conselho para quem está montando a própria casa é: não é a casa dos seus pais. Sério, repita diante do espelho três vezes: “esta é a minha casa, eu posso fazer o que eu quiser”. Você não precisa ter um apartamento do tamanho do que seus pais têm, e portanto não precisa ter os mesmos móveis, o mesmo número de panelas, o fogão do mesmo modelo. Não precisa arrumar a casa no mesmo dia que eles, não precisa ter o mesmo estilo de decoração. Se eles cozinham com manteiga você pode cozinhar com azeite, se usam certa marca de desinfetante você pode experimentar ser natureba e limpar a casa com vinagre. Tudo é permitido!
E já que estamos falando de experimentar, que tal ir desapegando pouco a pouco dos estigmas que trazemos da história familiar? Se passou a adolescência inteira ouvindo da mãe “ai, que bagunça!”, esta é a melhor hora para largar o ar blasé (“não consigo me organizar”) e achar o seu jeito de arrumar as coisas. Tendo menos coisas, por exemplo. Eu passei um tempão falando até com uma ponta de orgulho que não levo jeito para cozinhar. Olha só que bobagem! Claro que não sou nenhuma Nigella, mas já sei fazer um ratatouille genial – o que não teria acontecido se eu não saísse da inércia em algum momento.
A sua casa não é só um lugar. Ela reflete quem você é, o que você quer ser, o que você faz por si. Pode ser que haja algum prazer escondido em acertar a estimativa das contas, saber fazer o supermercado ou deixar o chão brilhando ao som de Sharon Jones, e você só ainda não descobriu isso porque não tentou. Coloque a imaginação para funcionar e mãos à obra. Só não se esqueça de chamar a sua família para um café. Eles vão ficar de queixo caido.
[Crédito da foto: Apartment Therapy]
10 Comentários
O apezinho onde cresci sofreu uma bela reforma e virou o cafofo onde vivo na lógica do “não preciso, não tenho”, mas com direito àqueles mimos que toda craft-girl sonha. Ganhei um cantinho só para minhas artes.
Abri mão da mesa de jantar. Pra quê se tenho bancos e uma linda bancada na cozinha americana? Jogos americanos resolvem. Jogo de sofá? Eu, heim! Só eu e o Zé na hora da tv. Resultado: sofá retrátil com 1,40 m, para ficarmos bem juntinhos.
Bem diferente da “casa da mamãe”! Lá, o sofá é gigantesco, a mesa de jantar sempre que tem mais gente é posta em uso, com toalhas coloridas e sousplat.
Achar a expressão do meu jeito no meu cafofo tem sido uma experiência e tanto! Mesmo tendo que me livrar de algumas coisas neste processo, rsrsrrs.
<3
Oi Tico
Que delícia! Que graça! Adoramos a descrição do seu cafofo!
Escreva sempre, ok?
Beijos da Equipe Apezinho
otimo! isso ai! rs. ja passei por isso
Oi Melissa
Obrigada!
Beijos da Equipe Apezinho!
Adorei o post. Tô no meu apezinho a um mês, e foi muito no susto, então ainda estou me adaptando ao que é meu, e ao que é da minha mãe, aos meus jeitos, o que gosto e o que não… Curti muito !
Oi Fernanda
Todos passamos por isso, né?
Aos poucos o nosso canto fica com a nossa cara! A intenção é essa!
Beijos da Equipe Apezinho!
Maffalda, muito bom o texto.
Essa questão da gente carregar a casa da mãe pra nossa casa não para aí. Ela vai até as nossas entranhas, carregamos os padrões de comportamento, a forma como nos relacionamos, como reagimos perante as mesmas situações.
É preciso reverenciar a família, as origens, as teias familiares mas ao mesmo tempo descobrir a si mesmo, saber o que gostamos ou não, ao invés de aceitar o pronto.
Beijos
Oi Anne
Nem percebemos a repetição do padrão, né? É mais forte do que a gente.
Mas a gente consegue!
Beijos da Equipe Apezinho!
Fantástica abordagem do tema.
Estou em contagem regressiva para esse momento de “corte do cordão umbilical”,
e vou repensar minhas idéias sobre minha casa.
Meeu Deus… Não sou uma boa dona de casa. Vontade de realizar as tarefas domésticas eu tenho, só que na hora H, dá bug em tudo e a vontade vai embora quando vejo pratos para lavar e roupas para passar !